Wolf Hall de Hilary Mantel
Como havia referido, Wolf Hall de Hilary Mantel foi uma escolha de impulso. A autora estava no meu radar, mas não contava pegar no livro nessa altura.
O livro é o que prometia, uma obra primorosa que nos transporta para a corte de Henrique VIII, pela voz de Thomas Cromwell. O pano de fundo é a anulação do casamento do rei com Catarina de Aragão e o seu casamento com Ana Bolena.
Sugestionada pela informação que a autora terá feito uma investigação histórica durante 5 anos, senti sempre (sem prejuízo de estar perante uma ficção) que o que me estava a ser apresentado era credível.
Adorei a perspectiva que é dada da vida diária da época, um tópico que sempre me fascina em qualquer obra de época. Sente-se os cheiros, o peso da morte, o fatalismo de viver em períodos de pestes recorrentes e até sazonais.
Ana Bolena é apresentada de uma forma tão negativa (fria, calculista, vingativa) que me pergunto se este retrato é verídico ou fruto da visão que foi deixada pelos seus contemporâneos. Curiosamente, Thomas More é também retratado de forma muito negativa, um verdadeiro sádico que contrasta com a imagem que eu possuía de um intelectual integro que morreu por recusar negar as suas convicções. Mais uma vez, o período de convulsões sociais e acusações mútuas entre as facções religiosas que se tentavam impor, poderá nunca permitir que conheçamos a realidade.
É um portento com mais de 600 páginas que tem continuação em O livro negro, que planeio ler após Moby Dick.
A leitura torna-se por vezes difícil, mas apenas porque são tantos Thomas (facto que não passa despercebido à autora). Em mais que uma ocasião, tive dificuldade em perceber a quem se atribuía o discurso. Mas o discurso é bastante fluído e apesar de conhecermos a história (lamento, mas a Ana Bolena morre no final), é inevitável querer continuar a ler para seguir a direcção das personagem e o papel de cada uma na trama.
Wolf Hall e O livro negro venceram os prémios Man Booker de 2009 e 2012, respectivamente. E não é à toa porque