A Guerra dos Mundos (1898) é um dos clássicos de ficção científica que nunca tinha lido. Entra no campo de... já vi todos os filmes, já ouvi todas as histórias, pelo que o que poderia trazer-me de novo?
Na verdade, nos últimos anos, tenho tido agradáveis surpresas com os livros que pensava conhecer, tal é a sua infiltração na nossa cultura popular.
A edição e H.G. Wells (1866-1946)
Não gostei particularmente da edição ou do livro. Foi em cascata, primeiro apanhei um erro de tradução, que me levou a desconfiar do que estava a ler, esse erro estava numa secção que me causou mau-estar por ser claramente racista que, por sua vez, me levou a procurar elementos biográficos do autor que, concluí ser um racista.
"Antes de formularmos a respeito deles um juízo demasiado severo, devemos recordar-nos que destruímos, implacável e totalmente, não apenas animais, como o bisão e o dodó, mas também raças inferiores."
E as raças inferiores a que H.G. Wells se refere são aborígenes da Tasmânia, descritos como aqueles que "apesar da sua semelhança com os homens", foram aniquilados por emigrantes europeus.
No mínimo, um pouco estranho para aquele cujo trabalho foi considerado precursor da Declaração dos Direitos Humanos. E não esquecer que era defensor da eugenia, algo que também vi reflectido nesta obra.
E pronto, toda a experiência de leitura estragada. Isso e o facto de as primeiras 75% das páginas serem uma seca do caraças.
A história
A narração começa nos inícios do séc. XX, em que o narrador recua 6 anos, para os primeiros sinais de uma invasão de marcianos, mais precisamente em Agosto de 1894.
Estamos no reinado da Rainha Vitória e no ano que seria inaugurada a Ponte da Torre de Londres e em que se desenvolviam vários movimentos antiescravagistas.
Na Inglaterra de 1894, os marcianos chegam quase sem repercussão. Na verdade, quem tenta contar o que viu, é rapidamente ridicularizado. Hoje em dia, 20 mil vídeos estariam no YouTube, nos primeiros 5 minutos.
A primeira parte do livro retrata as decisões (algumas incompreensíveis) do nosso narrador: onde vai nas primeiras horas, movido pela curiosidade, e nos dias seguintes, movido pela vontade de sobreviver. A procura por comida, as fugas em massa, as diferentes reações humanas ao horror, vão-se desenrolando.
Os marcianos de H.G. Wells são frequentemente comparados com os humanos e por sua vez, os humanos com os animais que são por estes consumidos, como uma vaca ou um coelho. É que estes marcianos, com os seus tripods, alimentam-se de sangue humano.
É na segunda parte (os últimos 25% do livro), intitulada "A terra dominada pelos marcianos" que justificam a leitura.
Nesta, começamos com o narrador isolado numa casa com um cura e um núcleo de marcianos que (infelizmente) aí aterraram e começam as questões relacionadas com a sobrevivência dos mais fortes, a sobrevivência dos humanos, o valor da intelectualidade e o desenvolvimento de uma nova civilização, eventualmente em simbiose com os marcianos.
Se recomendo o livro? Não particularmente.
Mas se quiserem pegar nele e começar na 2ª parte, sou da opinião que não perdem nada de relevo.