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Este livro consegui com um golpe de sorte. Depois de o namorar já em Maio, apanho-o no NetGalley. Não resisti. É um livro perfeito para o mês de leituras de não ficção.
O autor e o contexto
O The Feather Thief retrata da investigação de Kirk W. Johnson, um veterano da guerra no Iraque, que passou os últimos anos a tentar levar para os EUA os tradutores iraquianos que, por terem ajudado os EUA e por terem sido por eles abandonados, passaram a estar em risco.
A tensão da luta diária para salvar vidas e sofrendo de stress pós-traumático, procurou alguma paz com a artesanal "pesca com mosca"
Nesta pesca, os iscos geralmente imitam o insecto que determinado peixe come e podem variar de acordo com o tipo de peixe, o curso de água, a estação do ano e até o estádio de desenvolvimento dos insectos que desejam imitar. E depois há a arte que não se destina à água.
Há pessoas que vivem pela arte de construir estes anzóis soberbamente decorados com as mais belas e raras penas do mundo. São uma comunidade fechada que é capaz de gastar milhares e milhares de euros para conseguir "aquela" pena. E para muitos, o facto de se tratarem de penas de aves em risco de extinção, não constitui um obstáculo.
Um livro de história natural
Sabiam que a teoria da evolução foi atribuída simultaneamente a Darwin e Alfred Russel Wallace? Eu não.
Durante a sua expedição de recolha de informação e espécimes, Alfred Russel Wallace (1823-1913) enviou a Darwin uma carta com a sua teoria da evolução, mas Darwin ainda estava a escrever a sua A Origem das Espécies.
De imediato, Darwin entrou em contacto com colegas, expressando o seu desespero: estava a trabalhar há décadas na obra e se a publicasse depois da carta de Wallace ia parecer que o havia copiado.
"Toda a minha originalidade será esmagada"
A Linnean Society of London decidiu apresentar as conclusões dos dois em simultâneo (diz-se que com preferência para Darwin, até porque Wallace ainda estava na Indonésia) e foi atribuída a descoberta a ambos. Darwin apressou-se a publicar A Origem das Espécies e o resto é história.
Esta história também é sobre a expedição de Wallace e a atracção dos vitorianos pela exploração e estudo da vida natural. Mais, é também sobre a utilização da vida natural já que não havia senhora que não usasse as melhores penas nos seus chapéus.
... the develish relationship between man and nature and his unrelenting desire to lay claim to its beauty, whatever the cost. (o autor)
Um crime real (que mais parece ficção)
Mas voltemos à pesca, porque este é um livro sobre crime real (true crime). Em 2009, um jovem prodígio musical - Edwin Rist - entrou no British Museum of Natural History e roubou 299 cadáveres de aves, inclusive da expedição de Wallace e onde também se encontra a coleção de espécies recolhida por Darwin ou um dos poucos esqueletos existentes do extinto dodo.
O objectivo do roubo era utilizar as penas de aves raras e proibidas nos iscos e vendê-las aos aficionados da arte. Edwin Rist, de 22 anos, entrou no museu partindo uma janela e levou as carcaças de 299 pássaros insubstituíveis. Apenas 101 foram recuperadas com as etiquetas científicas (sem o onde e quando, os espécimes não podem ser utilizados para fins científicos).
Kirk Wallace não se limitou a fazer um resumo do caso, ele investigou-o da infância de Edwin Rist até depois do seu julgamento. Mas não satisfeito, movido por um sentimento de justiça, procurou descobrir os espécimes não recuperados e que não apareciam em registos de venda.
... As he (Wallace) marvelled at their extraordinary evolutionary journey, his thoughts turned worried to the future (...) "shoud civilized man ever reach these distant lands... we may be sure that we will so disturb the nicely-balanced relations of organic and inorganic nature as to cause the disappearance, and finaly the extinction of these very beings whose wonderfull structure and beauty he alone is fitted to appreciate and enjoy." "This consideration", he concluded, "must surely tell us that all living things are not made for man"
In 1869, when Alfred Russel Wallace first expressed his fears of the destructive potential of “civilized man,” he couldn’t have imagined how swiftly they would materialize, in what historians have described as the Age of Extermination: the greatest direct slaughter of wildlife by humans in the history of the planet.
The Feather Thief é um livro sobre história natural, sobre uma comunidade de pessoas com uma paixão, sobre a ligação entre o homem e a natureza, os limites éticos na relação entre estes e um fantástico policial.
É o arquétipo do meu livro de não ficção preferido: que me proporciona novos conhecimentos e o faz de forma envolvente.
For millions of years, there were no humans to cut their trees down or hunt them for their feathers. Without natural predators, the males had no need to develop armament for self-defence. Similarly, they had no need to blend into their surroundings, and there was no harm in standing out.
(Por milhões de anos, não havia seres humanos para cortar suas árvores ou caçá-los pelas suas penas. Sem predadores naturais, os machos não precisavam desenvolver armamento para autodefesa. Da mesma forma, eles não precisavam se camuflar no ambiente, e não havia mal algum em se destacarem.)
1.
Dei um gritinho de alegria quando o NetGalley me aceitou para rever o Feather Thief. Comecei a ler e não consigo parar. É ainda melhor do que inicialmente imaginei.
O livro perfeito para o #NonFictionNovember2018 e eu estou a devorá-lo.
Um livro sobre como os humanos não merecem este planeta, sobre histórial natural, sobre museus e sobre iscos de pesca de linha.
A prova de que um bom livro nos poderá levar a gostar dos assuntos mais improváveis e que um bom livro de não ficção é capaz de ser tão emocionante como um policial.
2.
Comecei a andar e quando percebi, estava a chegar à biblioteca, em vez do restaurante onde deveria ir almoçar.
3.
Sabiam que Bookdepository, Goodreads e AbeBooks, são da Amazon?
4.
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