Em
Janeiro havia planeado ler Sherlock Holmes de fio a pavio. Em Setembro ainda só tinha lido dois:
- Um estudo em vermelho (1887)
- O signo dos quatro (1890)
Este fim de semana prolongado permitiu-me colocar algumas leituras em dia e uma delas foram os contos de Sherlock Holmes, em concreto as As aventuras de Sherlock Holmes:
A Scandal in Bohemia - Um escândalo na Boémia (1891)
The Adventure of the Red-Headed League - A liga dos cabeça vermelha (1891)
The Adventure of the Man with the Twisted Lip - O homem do lábio torcido (1891)
A Case of Identity - Um caso de identidade (1891)
The Boscombe Valley Mystery - O mistério do vale Boscombe (1891)
The Five Orange Pips - Cinco sementes de laranja (1891)
The Adventure of the Noble Bachelor - O solteirão nobre (1892)
The Adventure of the Blue Carbuncle - O carbúnculo azul (1892)
The Adventure of the SpeckledBand - A faixa malhada (1892)
The Adventure of the Copper Beaches - As faias cor de cobre (1892)
Faltam-me apenas dois contos que não faziam parte dos livrinhos, mas que irei ler mais tarde online. Notei que, porque Sir Arthur Conan Doyle se vai referindo a histórias anteriores, é particularmente importante ler por ordem cronológica.
Deixo-vos com alguns destaques, porque não há nada mais aborrecido que revelações em livros que se querem de mistério até às últimas páginas.
A mulherO primeiro conto desta semana era Um escândalo na Boémia, é absolutamente fantástico porque introduz Irene Adler, uma personagem absolutamente fascinante que é colocada ao nível de Sherlock Holmes.
O conto começa precisamente com:
"Para Sherlock Holmes, ela é sempre a mulher. Raras vezes o ouvi mencioná-la de outra maneira. Era da opinião que ela eclipsava e se sobrepunha a todas as outras mulheres, e isto não era porque estivesse apaixonado por Irene Adler. (...) Entretanto, existia apenas uma mulher para ele e essa mulher era Irene Adler."
E depois:
Ele antigamente zombava da esperteza das mulheres, mas ultimamente não o ouvi dizer mais nada.
É verdadeiramente fascinante porque, nos restantes contos, as mulheres são pouco mais que acessórios, em regra vítimas e com sorte salvas. Até a esposa de Watson não aparece mais que como cuidadora do marido que o encoraja a deixar o trabalho e ir espairecer, indo de encontro às aventuras de Holmes.
Outras mulheres
Sir Arthur Conan Doyle tem uma frase absolutamente magistral sobre o patriarcado condescendente. Referindo-se ao padrasto, uma das personagens diz:
considera tudo o que lhe conto como fantasia de mulher nervosa; não o diz, mas sinto-o, quando desvia os olhos e me dá respostas calmas.
My dear WatsonWatson é claramente uma personagem que adquire mais densidade: ficamos a saber que está a exercer como médico e tem publicado as aventuras de Holmes. Este último facto não tem objecções por parte de Holmes, mas este é bastante crítico da forma como Watson escreve, claramente para agradar um público ávido de sensacionalismo.
Ir na onda
É impossível não perceber desde algumas incongruências, a absolutas fantasias em alguns dos contos. Temos de fazer um exercício de suspensão de tudo que é racional e ir na onda.
Façamos de conta que estamos no séc. XIX e que algumas das coisas são absolutamente novas e surpreendentes para nós. Só assim fará sentido.
E eu estou a adorar a onda. Esta semana lerei as Memórias de Sherlock Holmes que trazem o infame professor Moriaty.
É fascinante pensar que Arthur Conan Doyle recebeu uma chuva de críticas quando "matou" a sua personagem. O jornal onde publicava, teria perdido 20000 assinantes. Mais ainda, pensar nesse tipo de paixões por literatura (embora Arthur Conan Doyle considerasse Sherlock Holmes uma distração da escrita de livros maiores) ou arte (lembro-me das polémicas exposições de arte moderna, no início do séc. XX que levavam milhares a galerias e a agressões físicas pelas "ofensas" à arte).