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O gato acordou cedo e decidiu que eu também deveria acordar... antes das 6h00. 

Despertada, fui à cozinha buscar cafeína e voltei para a cama com a mais recente aquisição: Visão Biografia - Saramago, que se juntou a outras edições especiais que comprei quando faleceu. 

 

Feita de notas biográficas intercaladas com contextualização histórica, é uma leitura muito interessante e visualmente apelativa, graças um bom leque de imagens.

 

Entretem, embora não sei se, por 5.50€, não teria feito melhor, se tivesse comprado um livro usado do autor, para completar a minha colecção. 

 

Mas hoje, às 6h00, a ler sobre Saramago, senti-me de volta ao Escritaria de Penafiel, a única vez em que tive oportunidade de o ver e ouvir ao vivo. A beber as suas palavras e personagens em cada rua e ruela.

Outros tempos de liberdade...

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Presidencia de la Nación Argentina

A única resposta que temos para a morte é o amor. 

José Saramago

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Saramago # 17

17.06.22
Domingo, 16 de Novembro de 2008

86 anos

Dizem-me que as entrevistas valeram a pena. Eu, como de costume, duvido, talvez porque já esteja cansado de me ouvir. O que para outros ainda lhes poderá parecer novidade, tornou-se para mim, com o decorrer do tempo, em caldo requentado. Ou pior, amarga-me a boca a certeza de que umas quantas coisas sensatas que tenha dito durante a vida não terão, no fim de contas, nenhuma importância. E porque haveriam de tê-la? Que significado terá o zumbido das abelhas no interior da colmeia? Serve-lhes para se comunicarem umas com as outras? Ou é um simples efeito da natureza, a mera consequência de estar vivo, sem prévia consciência nem intenção, como uma macieira dá maçãs sem ter que preocupar-se se alguém virá ou não comê-las? E nós? Falamos pela mesma razão que transpiramos? Apenas porque sim? O suor evapora-se, lava-se, desaparece, mais tarde ou mais cedo chegará às nuvens. E as palavras? Aonde vão? Quantas permanecem? Por quanto tempo? E, finalmente, para quê? São perguntas ociosas, bem o sei, próprias de quem cumpre 86 anos. Ou talvez não tão ociosas assim se penso que meu avô Jerónimo, nas suas últimas horas, se foi despedir das árvores que havia plantado, abraçando-as e chorando porque sabia que não voltaria a vê-las. A lição é boa. Abraço-me pois às palavras que escrevi, desejo-lhes longa vida e recomeço a escrita no ponto em que tinha parado. Não há outra resposta 

 

 

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