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Comecei a ler Money de Martin Amis, um livro que pretende ser uma crítica à sociedade dos anos 80, capitalista e hedonista, ou não fosse a personagem principal (e narrador) chamar-se John Self.
Money é, na verdade, Money. Uma carta suicída. E o caminho auto destrutivo de John Self torna-se evidente desde a primeira página.
Comecei por dizer que o livro "pretende ser uma crítica". Se o consegue ou não, não sei, porque desisti na página 26 (invoco em minha defesa que é letra pequenina e apertadinha) quando a personagem, depois de várias passagem racistas, e misógenas, decide explica como bater pela primeira vez numa mulher é algo difícil, mas que depois se torna mais fácil ("bater em mulheres é como fazer rolar um rolo").
São 400 páginas, mas I´m done.
Martin Amis
1949-2023
Do autor, li frequentemente que lê-lo era um pouco "hit or miss", o que não deixa de ser interessante.
Para mim, é um daqueles "ler antes de morrer" que saiu da prateleira e da mente.
Talvez um dia tropece num "hit".
Confesso que era uma leitura para a qual tinha algumas expectativas. A premissa era fantástica - E se Jesus ressuscitasse mulher?, numa pequena vila em Cabo Verde?
Adorei as primeiras páginas, com um cheirinho a la Saramago. Mas a verdade é que foi só isso. Não senti que a história ou as personagens fossem coesas. Havia páginas e páginas de listas (as primeiras até têm piada, depois é simplesmente um saltar de páginas), por exemplo, o conteúdo de uma mercearia.
Mas vamos à história. Numa vila em Cabo Verde vivia uma beata que dedicou toda a sua vida à sua beatice. No leito da morte pede para ser fotografada, para espanto das suas 2 netas emprestadas.
_Valha-nos Deus, chamem o médico, chamem o médico,
(...)
_Não chamam nada, na minha morte mando eu,
Claro está que a velha não podia dizer "Na minha vida mando eu", porém, com aquele trocadilho, estava a fazer uma clara alusão à vida que ela não vivera e por que sempre tivera curiosidades, sempre desejara experimentar, mesmo escondida atrás das rezas e dos terços, porém tal reacção era uma amostragem de todo o seu descontentamento, uma provocação e uma cobrança do que ela tinha na alma e em mente e que a alma e a mente nunca buscaram consenso...
Porém, no momento que o fotógrafo dispara a máquina, a velha evapora-se, vindo a revelar-se como Jesus, quando a fotografia é também ela revelada.
Depois, é toda uma sociedade e os seus valores a revelarem-se perante o evento, com uma mistura saudável de religioso e profano, em algumas fabulações muito bem conseguidas.
Ainda assim, não consegui que o livro me levasse para além das 150 páginas, apesar de ter momentos muito bem conseguidos. Fico com a sensação que, alguma edição levaria esta obra a uma versão mais coesa.
Há muito tempo que não desistia de um livro e sinto-me particularmente desapontada que tenha este. Mas a vida é demasiado curta. Quem sabe se um dia volto a ele.
A reler: O Evangelho segundo Jesus Cristo, José Saramago.
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