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Eu já tinha visto o livro ser mencionado de forma muito positiva nas redes sociais. Mas era simplesmente mais um de milhares de livros com que me cruzo. Mas tive a possibilidade de o ler através do NetGalley e quando vi que tinha elogios de George Saunders e Roxane Gay, fiquei curiosa e pedi uma cópia.

'An excitement and a wonder' George Saunders
'The writing in this outstanding collection will make you hurt and demand your hope' Roxane Gay


Black Friday é um livro de contos que misturam fantasia, distopia e um realismo brutal. É sobre racismo, a sociedade moderna e o consumismo galopante que nos domina. É um livro absolutamente brilhante e uma das melhores leituras que fiz este ano.


Fico-me pelo primeiro conto, numa tentativa de mostrar o quando este livro me impressionou, pela capacidade de transmitir ideias e valores através de uma história.  Chama-se The Finkelstein 5 e começa com um homem a acordar com um toque de telefone: 

He took a deep breath and send the Blackness in his voice down to a 1.5 on a 10-point scale. (...) If he wore a tie, wing-tipped shoes, smiled constantly, used his indoor voice, and kept his hand stapped and calm at his sids, he could get his Blackness as low as 4.0.

A forma como  Nana Kwame Adjei-Brenyah descreve o dia-a-dia de um negro a controlar-se para parecer e soar o mais branco possível, é doloroso e faz-me pensar no quanto eu sou privilegiada por não ser marcada por todas essas limitações na minha vida.

No conto, Finkelstein 5 era o nome dado a um grupo de 5 crianças e adolescentes que tinham sido assassinadas por um homem branco, que lhes havia cortado as cabeças com uma motosserra. Tinha sido julgado e absolvido.  

THIS IS AMERICA (Youtube).  

Infelizmente, muito mais próximo da realidade que desejaríamos. Acredito que o assassinato impune de Trayvon Martin terá inspirado este conto, assim como o nome do seu assassino (Zimmerman) terá inspirado o conto Zimmer Land, um parque tipo Westworld em que os visitantes podem viver as suas fantasias, nomeadamente a de matar um negro.

E por isso, ser negro era/é:

"I want you safe. You gotta know to move," his father said to him at a very young age. Emmanuel started learning the basics of his Blackness before he knew how to do long division: smilling when angry, wispering when he wanted to yell.


E algures a meio do conto, entro em rota de colisão com a realidade: "Emmanuel found a window seat. No one sat next to him." Recordo-me (facilmente) que uma das coisas que mais me impressionou no livro Racismo em Português, da Joana Gorjão Henriques foi um testemunho de um negro em Portugal, que partilhava o sofrimento de estar sentado num autocarro e o lugar ao seu lado ser o último a ser ocupado. Isto é Portugal.

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