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"The cost of your silence is my life"
Ódio que Semeias, de Angie Thomas
"The Hate U Give Lil’ Infants Fucks Everyone" - Tupac Shakur
Já li o Ódio que Semeias, de Angie Thomas há algum tempo, mas senti-me bastante inepta para fazer uma resenha que lhe fizesse justiça. É um livro magnífico que teria merecido o National Book Awards, para o qual foi nomeado.
No Ódio que Semeias, Starr Carter é uma jovem de 16 anos, afro-americana, que se divide em dois mundos: o seu bairro predominantemente negro e o colégio que frequenta, maioritariamente branco. Essa divisão, não é meramente geográfica, mas identitária.
O trailler do filme, retrata essa cisão de forma exemplar:
Starr Carter assiste ao assassínio do seu colega por um polícia. E depois à colisão dos seus mundos, à luta da sua comunidade pela sobrevivência e à luta de um mundo por um status quo sustentado na injustiça.
A conversa
Um dos momentos mais chocantes do livro, para mim, é o aquele que retrata a conversa de um pai negro com os seus filhos, sobre como interagir com polícias, de modo a sobreviver.
Viver assim, É uma violência.
E aqui estamos nós. 2020. As notícias mostram homens encorajados a caçar, assassinar e a filmar um homem negro que fazia jogging. Corpos negros e castanhos a ser abatidos dentro das suas casas, por razão nenhuma, excepto o facto de ser de cor.
Não fui capaz de ver o vídeo da morte de Ahmaud Arbery . Também não vi o vídeo filma a morte de George Floyd, mas hoje já li que a autópsia exclui asfixia e estrangulamento, atribuindo a causa de morte a "condições de saúde preexistentes, incluindo doença coronária e hipertensão".
A impunidade e a criminalização da vítima é igualmente retrada por Angie Thomas. E pelas notícias diárias. Em 2020.
Este livro, entre outros, coloca-nos na perspectiva de uma pessoa de cor, que tem de se adaptar a um mundo "branco", para viver/sobreviver.
Por isso, ler diversamente é tão importante, porque nos permite um vislumbre sobre outras vidas, outras realidade, outras dificuldades.
Talvez esses vislumbres possam criar um pouco de compreensão, um pouco de empatia.
É também por isso que me resguardo tanto de livros como American Dirt que utilizando as narrativas de minorias, não fazem mais do que perpetuar estereótipos danosos. Esse é o dano de valorizar esse tipo de vozes e silenciar outras.
Por isso, nos livros e fora deles,
Black Lives Matter
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