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Comecei a minha releitura de A Cidade e as Serras. Geralmente costumo saltar para a chegada a Tormes, agora estou a deleitar-me por ler a parte da Cidade, como se fosse um livro novo. 

 

Reler Eça de Queiroz é sempre um assombro pela sua atualidade:

"... o Homem pensa ter na Cidade a base de toda a sua grandeza e só nela tem a fonte de toda a sua miséria. (...) Na Cidade findou a sua liberdade moral: cada manhã ela lhe impõe uma necessidade, e cada necessidade o arremessa para uma dependência: pobre e subalterno, a sua vida é um constante solicitar, (...) A sua tranquilidade (...) Sumida para sempre, nessa batalha desesperada pelo pão, ou pela fama, ou pelo poder, ou pelo gozo, ou pela fugidia rodela de ouro! Alegria como a haverá na Cidade para estes milhões de seres que tumultuam na arquejante ocupação de desejar - e que, nunca fartando o desejo, incessantemente padecem de desilusão, desesperança ou derrota?

 

Se esta citação não é uma perfeita descrição da sociedade contemporânea, moldada pelas dinâmicas da globalização (tecnológica e económica) e de consumismo que criam dependência e alienação, então, é certamente uma reflexão profunda que permanece inquietantemente atual.

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Assassinei (tão fácil) com uma unha

um pequeno mosquito

que aterrou sem licença e sem brevet

na folha de papel

...

Trecho de Matar É Fácil - What´s in a name, de Ana Luísa Amaral

 

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Não é o primeiro livro de António Lobo Antunes, que li.

Já li aguns óbvios, como o Manual dos Inquisidores e anos de crónicas, mas há muitos anos que planeio pegar-lhe pela totalidade da obra e cronologicamente, logo: Memória de Elefante.

 

Era suposto ser o livro de Maio, mas aqui estamos. 

Relembro o desafio do Hugo, para ler António Lobo Antunes: ALA QUE SE FAZ TARDE (#alaquesefaztarde).

É uma leitura lenta. Em diversos momentos é francamente chato e deprimente e obriga-me a ir ao dicionário, mas de vez em quando há uma frase ou uma imagem que me deixa arrebatada, como:

Não era ainda a hora dos homossexuais povoarem os intervalos entre as árvores com as suas silhuetas expectantes, afagados por carros que roçavam languidamente por eles à maneira de grandes gatos ávidos, tripulados por senhores que envelheciam como violetas murcham, numa doçura magoada.

 

Senhores que envelheciam como violetas murcham, numa doçura magoada. É simplesmente sublime.

Para mim, ALA sempre foi o romancista da masculinidade frágil, deprimente, depressiva, mas muito emotiva. E este Memória de Elefante, claramente autobiográfico, é assim: um homem deprimido (e arrependido) depois do divórcio, afastado das filhas e tão perdido na vida como na cidade (Lisboa).

É o primeiro e ao primeiro temos de perdoar as faltas. Ele quer mostrar muito e acaba por ser um retalho de uma história pontuada com as frases e metáforas que o jovem escritor queria escrever... algures.

Mas a vantagem de ler ALA é que temos 30 obras para o ver crescer no romancista em que se tornou.

 

Há deslumbramento em ler António Lobo Antunes. 

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