Abro a janela. Rompe a estrela da manhã.
Parece que o tempo não me vai permitir a tradicional ida à Avenida dos Aliados. Fico em casa com Natália Correia. Não me parece uma má troca.
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Parece que o tempo não me vai permitir a tradicional ida à Avenida dos Aliados. Fico em casa com Natália Correia. Não me parece uma má troca.
Há dois livros, sobre o 25 de Abril, que destacaria, pela perspectiva feminina, tão ausente da literatura deste período.
Se tivesse de escolher uma frase para descrever este livro, diria que foi aquele que me ensinou, o que não sabia que desconhecia.
Ana Sofia Fonseca concentra-se nas horas que antecederam a revolta dos militares, pelos olhos das mulheres que os acompanharam, desde as namoradas, às esposas, até àquela que daria o nome à revolução.
Na descrição dessas horas, vai contextualizado como os casais se conheceram e de como chegaram ali. Acima de tudo, sobre como era ser mulher no Antigo Regime.
Maria Antónia Palla é/foi uma activista dos direitos humanos e do feminismo, que - por acaso - também é a mãe do actual primeiro ministro.
Oferece um excelente vislumbre sobre o jornalismo português do antes e pós-25 de Abril. Tem igualmente a melhor descrição que já li, sobre o colonialismo:
O gado era a principal riqueza dos naturais dessa região. E embora a posse dos animais fosse individual, a gestão das manadas era colectiva. Porque tudo dependia da água. O que fazia circular o gado por terras não delimitadas, em busca dos reservatórios de águas das chuvas que os seus proprietários tinham construído. Os concessionários mandaram a certa altura colocar avisos de que, dentro de um ano, a terra que não fosse reclamada, passaria a sua posse. Os naturais não sabiam ler. E um belo dia, encontraram a terra partilhada e cercada de barreiras, o que impedia o acesso à àgua dos animais que ficavam condenados a morrer de sede.
Aos seus proprietários, espoliados das terras que há séculos lhes pertenciam, restava-lhes ir trabalhar para as minas da África do Sul onde ficavam retidos por contratos que faziam deles escravos.
Viver pela liberdade, Maria Antónia Palla
Maus ("rato", em alemão) é a história de Vladek Spiegelman, judeu polaco sobrevivente de Auschwitz, narrada por si próprio ao filho, o cartoonista Art Spiegelman.
Mas não é só uma história do Holocausto. É uma história de sobre relações (especialmente entre pai e filho), sobre o que caracteriza a humanidade e os riscos de desumanizar grupos de pessoas.
Maus foi originalmente publicado numa revista e em partes. A edição a que tive acesso já unia os dois livros: "A história de um sobrevivente" e "E aqui começaram os meus problemas".
Com as primeiras páginas lidas, tive a necessidade de ir em busca do nome que assina a tradução. É que parecia estar cheio de erros. Não. Uma nota explicava a intencionalidade de traduzir como exigiu o autor, que replicou a forma como fala o seu pai, um polaco imigrante e idoso a falar num inglês sem correcção gramatical ou sintáctica.
Não consigo encontrar as palavras que traduzam a importância deste livro, a importância de manter vivas as memórias do Holocausto, de cimentar nas nossas vidas o que acontece quando se alimentam sentimentos extremistas, em vez da diversidade e compaixão humana.
Por isso, não deixem de renovar o vosso compromisso com a democracia e a liberdade, juntando-se às comemorações deste dia. "25 de Abril" não é uma opção por um regime político, é a luta (que deve ser diária) por uma vida em liberdade.