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Paulina Chiziane faz parte de um leque de autores/as dos PALOP que desejava ler. Dela, guardei como referência que foi a primeira mulher a publicar um romance em Moçambique, precisamente o Balada de Amor ao Vento.
Da autora, desejo ainda ler (e pela ordem cronológica de publicação): Ventos do Apocalipse, Niketche: Uma História de Poligamia.
Balada de Amor ao Vento é a história do amor entre Sarnau e Muwando, desde a juventude de ambos até à velhice, retratando a sua paixão, (in)constância e sofrimento.
São estes os narradores das suas histórias em que, claramente, se destaca a de Sarnau, que é também um reflexo da situação das mulheres num Moçambique colonial, sujeitas à poligamia e à violência dos seus maridos.
Tenho uma filha crescida que ainda estuda embora já tenha estudado muito. Um dia disse-me que a terra é redonda. Por fora é toda verde e lá no fundo tem um centro vermelho. Como o melão. Que a terra é a mãe da natureza e tudo suporta para parir a vida. Como a mulher. Os golpes da vida a mulher suporta no silêncio da terra. Na amargura suave segrega um líquido triste e viscoso como o melão.
Quem já viajou no mundo da mulher? Quem ainda não foi, que vá. Basta dar um golpe profundo, profundo, que do centro vermelho explodirá um fogo mesmo igual à erupção de um vulcão.
Todo o livro é evocativo de um Moçambique que é feito de natureza, tradição e feitiçaria.
Com efeito, é frequentemente na natureza, que Paulina Chiziane vai buscar as suas metáforas, como aliás se pode constatar na citação acima.
A leitura é surpreendemente rápida, para um livro tão descritivo. É também cheio de aspectos interessantes, como a evolução do discurso das personagens, ao longo da vida. Como por exemplo, a forma como Sarnau utiliza muitos diminuitivos, quando muito jovem e muito apaixonada.
A leitura foi fácil, mesmo com as referências locais, mas não posso dizer que foi um livro transformador. Talvez por outras leituras que já havia feito.
Foi aquilo que esperava dele: uma excelente introdução à obra de Paulina Chiziane.
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