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Há cerca de um mês, peguei neste livro, numa esperança de encontrar a luz neste mundo infestado de demónios. Nunca pensei, que a minha geração iria temer o surgimento de um estado totalitário. Hoje, sinto que este é perigosamente possível, num mundo de Trump e Le Pen.
Acho que é bastante provável que a nossa geração venha a ser julgada como a mais imbecil dos tempos modernos - tínhamos a informação, preferimos o reality TV e criamos as condições para a nossa submissão ou implosão - escolham o vosso veneno.
O livro de Carl Sagan é de 1995 e incrivelmente presciente. Assustadoramente presciente.
Um mundo infestado de demónios é sobre os meandros da nossa mente, da credibilidade, da compreensão humana. É sobre a ciência como empreendimento humano, mas também sobre os mitos, as superstições e as suas consequências.
Em Carl Sagan, a humanidade é sempre defendida.
Todos somos imperfeitos e criaturas da nossa época. Será justo julga-nos pelos padrões desconhecidos do futuro?
Mas a responsabilidade é igualmente nossa, pelo estado a que chegamos. Sagan oferece o pior de nós (caça às bruxas, inquisição, a distorção da realidade através da religião, da pseudo-ciência) e o melhor de nós (exemplos de magníficos empreendimentos na educação e ciência, ou de coragem intelectual.
E responsabiliza também a comunidade científica e a sua incapacidade para comunicar com os cidadãos:
Ao contrário de Benjamin Franklin, a maioria dos cientistas sente que não lhes compete expor farsas pseudocientíficas - e, muito menos auto-ilusões defendidas com toda a veemência. Geralmente também não têm muito jeito para isso.
Acima de tudo, questiona a educação que estamos a dar às nossas crianças, para serem os cidadãos de amanhã.
Quero parar a produção de alunos do ensino secundário amorfos, sem curiosidade, sem espírito crítico e falhos de imaginação. A nossa espécie necessita de, e merece, uma cidadania com espíritos bem despertos e uma compreensão básica do modo como o mundo funciona.
A ciência, continuo a dizer, constitui um instrumento absolutamente essencial para qualquer sociedade que queira ter esperança em transitar para o próximo século com os seus valores fundamentais intactos - não apenas a ciência tal como é feita pelos cientistas, mas a ciência compreendida e acolhida por toda a comunidade humana. E, se não forem os cientistas a fazê-lo, quem o fará?
A minha resposta é: todos nós. Como Sagan demonstra ao longo do livro é que existe uma teia de conexões entre a ciência e a democracia e todos estamos envolvidos: os políticos, os líderes religiosos, os meios de comunicação, os pais, os educadores, os voluntários sociais, os cidadãos.
Cabe-nos a responsabilidade de compreender o mundo em que vivemos e os preconceitos para onde a nossa mente nos leva. Aquilo a que Sagan (generosamente) chama de preguiça intelectual: evita o trabalho de se ter de pensar.
É por isso que leio. É por isso que leio Carl Sagan, que me obriga a pensar. E juro, que um dia ainda vou conseguir compreender o que é a teoria da relatividade e mecânica quântica.
Por ora, vou tentar compreender como funciona o meu cérebro:
E o próximo de Carl Sagan, já na estante é:
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