Capitãs de Abril - Ana Sofia Fonseca
Se tivesse de escolher uma frase para descrever este livro, diria que foi aquele que me ensinou, o que não sabia que desconhecia.
Ana Sofia Fonseca concentra-se nas horas que antecederam a revolta dos militares, pelos olhos das mulheres que os acompanharam, desde as namoradas, às esposas, até àquela que daria no nome à revolução.
Na descrição dessas horas, vai contextualizado como os casais se conheceram e de como chegaram ali. Acima de tudo, sobre como era ser mulher no Antigo Regime.
Nas férias, nas idas à Beira Alta semeavam-lhe perguntas no pensamento. Porque é que as pessoas andavam descalças? Porque é que, com este frio, os meninos não usam sapatos? Por que é que não posso ser amiga daquelas meninas? Interrogações que a mãe cala de uma assentada:
- A menina não está boa da cabeça.
(...)
- A menina não está boa da cabeça - dizia a mãe, sempre que Isabel ousava algum comentário.
A fim de não arranjar discórdias, a miúda acostumava-se a observar calada. Não sabe o quê, mas algo no mundo anda desconcertado. Com Pedro aprenderá os nomes das coisas.
Pelo meio, a história da vida privada dos portuguesas da época, com destaque para a vida dos militares na guerra colonial.
Fiquei com imensa vontade de ler África no feminino, as mulheres portuguesas e a guerra colonial de Margarida Calafate Ribeiro.
Cada vez mais, a consciência do que me falta saber: o PREC e a guerra colonial pelos olhos dos povos indígenas.
Meus senhores, como todos sabem, há diversas modalidades de Estado. Os sociais, os corporativos e o estado a que chegámos! De maneira que quem quiser vir comigo, vamos para Lisboa e acabamos com isto.
Salgueiro Maia, 24 de Abril de 1974