A vida numa colher - Miguel Rocha
Outubro está a ser um horrível mês de leituras. Cansaço, má gestão do meu tempo livre, falta de motivação. Como resultado, o único livro que terminei foi uma novela gráfica de um autor português, e alguns capítulos do Pensar Depressa e Devagar (que, alías, já deveria ter sido entregue na biblioteca).
A vida numa colher, de Miguel Rocha, foi um acaso, não conhecia o livro ou o autor, mas era o que procurava: novela gráfica de autores lusófonos. Descobriria depois que no Festival de BD da Amadora de 2004, venceu os prémios de Melhor Livro e Melhor Desenho. Não me surpreende de todo.
O que me surpreendeu foi o pano de fundo: Alentejo. Sim, leram bem, uma novela gráfica cuja história se centra num Alentejo pós-salazarista, que na sua agrura e no seu contexto social é, também, uma personagem.
Olegário volta à aldeia para recuperar as terras do pai, de imediato se depara com oposição dos que ocuparam a terra, que havia ficado ao abandono. Depois, contra a agrura da mesma, sem que consiga fazer crescer nada, consegue (a custo) começar a plantar beterrabas.
Mas o que Olegário quer é um filho varão, enquanto vão nascendo as filhas, que condena a um isolamento que as torna "selvagens".
É aqui que tive alguns problemas como o livro. É que a forma de identificar este estado selvagem, foi através do identitário africano. E às tantas fiquei com a sensação de que estava perante um racismo latente, embora não tenha percebido se do autor ou da personagem. Será que estava a ver as filhas "selvagens" pelo prisma de um homem que vinha da guerra colonial?
Apesar desse questionamento, fiquei rendida ao desenho.