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Estou como a Maria. Não tinha qualquer plano de entrar em desafios literários em 2020, mas leitores/as que amam livros, tendem a amar partilhá-los e esta é uma forma de o fazer, quando as pessoas que nos rodeiam, não lêem.

 

E eu adoro clássicos e a Bárbara fez-nos isto: ler os clássicos 2020. Como resistir?

 

Para o desafio de Fevereiro, optei pela A morte de Ivan Ilitch de Lev Tolstoi que comprei em 2008, o primeiro da biblioteca de clássicos escolhidos por António Lobo Antunes que o descreve como uma das maiores obras-primas do espírito humano:

Tudo o que somos se acha em poucas páginas, escrito de uma forma magistral. Li-as, maravilhado, umas vinte ou trinta vezes, continuarei a lê-las, maravilhado até ao fim dos meus dias.

 

Confesso que li isto e pensei que seria um pouco exagerado, mas a verdade é que esta pequena novela é um assombro.

A escrita é enganadoramente simples e muito melódica, com repetições intencionais que parecem meramente divertidas, mas que acabam por ser o cerne da (moralidade da) história.

 

O livro começa com o funeral de Ivan Ilitch, um pacato funcionário magistrado que se move na sociedade com o objectivo de ter uma vida decente, agradável e fácil. É honesto, mas a moral é balizada pela conduta de quem lhe é superior: se eles fazem, é porque está bem.

No fundo, é um funcionário que não resiste aos pequenos poderes e vive na redoma da sua posição.

Confrontado com a morte, percebe rapidamente quem é quem. Teve na morte as relações superficiais que alimentou em vida, com excepção de um fiel criado que vê nos cuidados deste moribundo, uma forma de pagamento antecipado de um karma:

Todos havemos de morrer. Porque é que não havia de aceitar este pequeno esforço? - disse ele, exprimindo assim que não lhe pesava o seu trabalho, precisamente porque o fazia por um homem moribundo e esperava que a seu tempo alguém fizesse esse mesmo trabalho também para ele.

 

Mas o que é verdadeiramente pungente nesta novela é a solidão:

essa solidão no meio de uma cidade populosa e dos seus numerosos conhecidos e da família - uma solidão que não podia haver maior em parte alguma: nem no fundo do mar nem em terra

 

Moribundo e só, Ivan Ilitch é confrontado com a soma da sua vida e de quanto a sua morte será um alívio para todos. Morre, procurando a dignidade de não fazer sofrer (mais) quem fica.

 

Uma morte digna para todos. Um excelente tópico de reflexão, agora que se volta a falar num referendo sobre a eutanásia.

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1 comentário

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Maria a 11.02.2020

Não tinha muita curiosidade com este livro mas esta opinião aguçou-me a curiosidade. Mais um para a TBR

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