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Não é o primeiro livro de António Lobo Antunes, que li.
Já li aguns óbvios, como o Manual dos Inquisidores e anos de crónicas, mas há muitos anos que planeio pegar-lhe pela totalidade da obra e cronologicamente, logo: Memória de Elefante.
Era suposto ser o livro de Maio, mas aqui estamos.
Relembro o desafio do Hugo, para ler António Lobo Antunes: ALA QUE SE FAZ TARDE (#alaquesefaztarde).
É uma leitura lenta. Em diversos momentos é francamente chato e deprimente e obriga-me a ir ao dicionário, mas de vez em quando há uma frase ou uma imagem que me deixa arrebatada, como:
Não era ainda a hora dos homossexuais povoarem os intervalos entre as árvores com as suas silhuetas expectantes, afagados por carros que roçavam languidamente por eles à maneira de grandes gatos ávidos, tripulados por senhores que envelheciam como violetas murcham, numa doçura magoada.
Senhores que envelheciam como violetas murcham, numa doçura magoada. É simplesmente sublime.
Para mim, ALA sempre foi o romancista da masculinidade frágil, deprimente, depressiva, mas muito emotiva. E este Memória de Elefante, claramente autobiográfico, é assim: um homem deprimido (e arrependido) depois do divórcio, afastado das filhas e tão perdido na vida como na cidade (Lisboa).
É o primeiro e ao primeiro temos de perdoar as faltas. Ele quer mostrar muito e acaba por ser um retalho de uma história pontuada com as frases e metáforas que o jovem escritor queria escrever... algures.
Mas a vantagem de ler ALA é que temos 30 obras para o ver crescer no romancista em que se tornou.
Há deslumbramento em ler António Lobo Antunes.
Há anos que não lia a revista LER. Não é por não gostar, simplesmente porque o dinheiro não dá para tudo. Mas depois de não ter podido requisitar na biblioteca, não resisti a comprar este número, quando o vi no escaparate.
Esta revista pega no tema do impacto das redes sociais na novas leituras/literaturas e novos novos leitores/as e compradores/as de livros. Depois, uma série de "os clássicos é que são bons", com uma bela dose de pedantismo.
Saltei imediatamente para o artigo de André Canhoto Costa (O Leopardo na jaula do presente) que precede a entrevista à ex-booktuber Caetana Antunes Máximo. A entrevista é deliciosa, divertimento puro, que me fez rir à gargalhada. Foi um fantástico programa de sábado à noite.
Eu confesso que não conheço (?) a Caetana, que recomenda a leitura de Rebecca Ross "para homens manientos". Mas também não conheço a Rebecca Ross, por isso fica já aqui a minha ignorância declarada.
Não foi por falta de esforço quanto à primeira, simplesmente não encontrei. Aliás, achei uma descortesia não ter sido mencionado o canal dela nas redes sociais.
Mas voltemos ao verdadeiro choque de gerações, que no meio literário parece estar reduzido ao cânone vs. comercial.
Se por um lado estamos perante uma jovem que descreve livros em função de vibes ou boring, por outro, esta não teve qualquer dificuldade em questionar o papel dos pseudo-guardiões do que é a literatura:
Boring! Mais uma daquelas pessoas que não considera leitores quem lê livros de fantasia, young adult, ficção científica ou terror (...) totalmente desligados do mundo, mas apostados em salvar a queda do homem ocidental. Mas depois acham estranho falharem tão espectacularmente.
Infelizmente, dizer coisas como "Se pensarmos na inflação e nas exigências da justiça climática, as classes populares são verdadeiramente priveligiadas", não abona propriamente em relação à sua capacidade de tecer considerações sobre a queda do homem ocidental.
Poderia dar imensos exemplos de como a entrevista é deliciosa (muito graças à forma como foi conduzida, com alguma benevolência, devo dizer), mas não vos quero privar do prazer da sua leitura.
Eu concordo parcialmente com a Isabel Lucas, quando diz que precisamos de "bons leitores", mas não havendo ainda uma fórmula mágica para: primeiro definir o que são "bons leitores" e depois definir o que são "bons livros", se calhar não era má ideia deixar as pessoas lerem o que gostam (incluindo frivolidades) e descobrirem o seu caminho.
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