Três Mulheres e Monólogos da Vagina
Nos últimos dias li dois livros em que jornalistas decidem entrevistar (centenas de) mulheres sobre vaginas, sexo e desejo.
Eve Ensler entrevistou duas centenas de mulheres sobre a anatomia feminina, experiências sexuais e sua relação com o corpo.
O resultado foi uma peça teatral (Monólogos da Vagina) que explodiu como uma referência do feminismo, não só por dar voz às mulheres, mas por ser inclusiva.
Um clássico obrigatórico, que gostei imenso de ouvir, na voz da própria Eve Ensler.
Three Women de Lisa Taddeo está longe de um clássico, pois acaba de ser publicado. A jornalista acompanhou diversas mulheres durante 8 anos, para escrever a história do desejo, na vida de três mulheres que poderiam ser tantas outras:
Lina é uma mãe doméstica dos subúrbios norte-americanos que confessa, num grupo de apoio, que deixou o marido (que se recusa beijá-la ou até tocá-la durante meses) para viver um romance amoroso com o seu amante, também ele casado.
Maggie é uma adolescente que inicia um relacionamento um dos seus professores de liceu e que terminou num mediático processo judicial.
Sloane é uma dona de um restaurante de sucesso, que vive um casamento estável e feliz com um marido que gosta de a ver a ter relações sexuais com outros homens.
É um livro de não ficção que é construído com uma estrutura narrativa em que as três histórias se vão alternando.
O nível de detalhe e a sua natureza explícita, em diversos momentos me fez sentir desconfortável, como se fosse uma voyeur da vida sexual destas mulheres.
É bom, mas não o imagino como um emergente clássico. A voz da autora é demasiado sentida e algo pretensiosa e faltou uma visão do desejo e do sexo feminino que não seja catastrófica e fatalista.
É aqui que coloco as minhas maiores reservas. Se é preciso dar voz ao desequilíbrio de poder no sexo que existe nas experiências masculinas e femininas, também é verdade que começo a sentir que há muitos livros que são uma exploração dessa realidade.
A história do desejo feminino não é só feito de exploração e parece não haver lugar para as vozes de mulheres resolvidas e empoderadas.
Aditado: Entretanto, a Britta Böhler fez um comentário fantástico sobre o livro, que não me ocorreu, de todo, mas faz todo o sentido e vai de encontro à minha insatisfação. O Três Mulheres, não é sobre o desejo feminino, mas sobre o desejo masculino e como as mulheres se acomodam a ele.