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FINALMENTE! Consegui terminar o 1º livro de Os Miseráveis.
Os meus objectivos de leitura para Junho eram: ler 4 livros e um deles teria de ser este 1º volume, cuja leitura estava suspensa, há muito.
Algumas pessoas irão agora sentir algum desconforto, mas aí vai: depois de ler o 1º livro dos Miseráveis, sou da opinião que ele tem momentos de brilhantismo, intercalados por partes de escrita "a metro".
E mais não digo, arrogando-me o direito de avaliar a obra no seu todo.
Num dia com longas horas de espera, terminei: Sensos Incomuns, de Maria Isabel Barreno, Cronista não é recado, de Maria Teresa Hora e Pedro, Lembrando Inês, de Nuno Júdice.
Este dia é um excelente exemplo do porquê de andar sempre com um livro. Na verdade, estou seriamente a considerar deixar um livro no porta-luvas - é que o que levei para a manhã, acabou cedo demais.
Sensos Incomuns - Maria Isabel Barreno (1993)
Depois de Novas Cartas Portuguesas (1972, em co-autoria), e A Morte da Mãe (1972), este é o meu terceiro livro de Maria Isabel Barreno.
Uma verdadeira pechincha (€1) que há muito aguardava vez na estante.
Este pequeno livro de contos é uma deliciosa leitura com personagens fascinantes, com sensos incomuns. E a forma como usa a palavra para criar imagens inusitadas, é sublime:
Assim pensava Madre Angélica, invariavelmente, atravessando os escuríssimos corredores, ouvindo o ressonar das suas irmãs em Cristo, e concluía, sempre com um estremecimento: quantas obstruções e filtros e escuras passagens temos dentro de nós, acerca dos quais ignoramos tudo, e que sub-repticiamente se revelam ao conhecimento dos outros, na nossa inconsciência, pela calada da noite ou por qualquer outro lapso de nossa vigilância.
#bookbingoleiturasaosol2
Se estão a fazer o Book Bingo leituras ao Sol 2 (aqui), fica a dica que este livro de contos, que custa apenas €1.00, venceu o Grande Prémio do Conto Camilo Castelo Branco (1993).
Cronista não é recado - Maria Teresa Horta (1967)
Mais um das 3 Marias das Novas Cartas Portuguesas (1972, em co-autoria), que revisito. Desta feita, um pequeno livro da sua poesia mais antiga.
O livro encontra-se divido em três conjuntos: um em que a temática é mais social, com enfoque nos trabalhadores; outro em que o tema são as mulheres e finalmente um conjunto de poemas que afloram a História de Portugal.
Não é um livro de poemas de fácil compreensão, para leigas como eu, mas eu considero isso um aspecto a melhorar e não uma barreira para a leitura.
Frequentemente, a poesia depende de um grande domínio da linguagem e do conhecimento das vivências culturais e históricas da poetisa/do poeta.
Porém, mesmo com as obras mais "difíceis" há sempre um momento de sintonia entre poetisa e leitora que é difícil esquecer. Como se estivéssemos a viver o mesmo, a pensar no mesmo e neste caso, a sentir a mesma frustração:
CRÓNICA SOBRE O PAÍS AO SEU POVO
Levam os feitos para a
História
reis de tronos cinzelados
Para quem é malfadado
não há brocado
nem fato
Cronistas dizem das naus
mas não dizem do arado
que lavra a História do povo
feita de povo descalço
(...)
Pedro, Lembrando Inês, de Nuno Júdice (2001)
Pedro, Lembrando Inês, de Nuno Júdice é uma releitura a que volto com alguma frequência. Ando a lê-lo e relê-lo desde a sua publicação.
Peguei nele por capricho, na biblioteca, apesar de ter um exemplar em casa. Mas o meu em nada se assemelha à edição da Dom Quixote com tons sépia.
Pedro, Lembrando Inês é um livro que recomendo a quem "não lê poesia", esse e toda a obra de Eugénio de Andrade. :)
#readingwomenmonth
Em que pensar, agora, senão em ti? Tu, que
me esvaziaste de coisas incertas, e trouxeste a
manhã da minha noite. É verdade que te podia
dizer: "Como é mais fácil deixar que as coisas
não mudem, sermos o que sempre fomos, mudarmos
apenas dentro de nós próprios?" Mas ensinaste-me
a sermos dois; e a ser contigo aquilo que sou,
até sermos um apenas no amor que nos une,
contra a solidão que nos divide. Mas é isto o amor:
ver-te mesmo quando te não vejo, ouvir a tua
voz que abre as fontes de todos os rios, mesmo
esse que mal corria quando por ele passámos,
subindo a margem em que descobri o sentido
de irmos contra o tempo, para ganhar o tempo
que o tempo nos rouba. Como gosto, meu amor,
de chegar antes de ti para te ver chegar: com
a surpresa dos teus cabelos, e o teu rosto de água
fresca que eu bebo, com esta sede que não passa. Tu:
a primavera luminosa da minha expectativa,
a mais certa certeza de que gosto de ti, como
gostas de mim, até ao fim do mundo que me deste.
Nuno Júdice
Pedro, lembrando Inês (2001)
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