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... posso reservar livros que estão com muita saída (depois é só aguardar o telefonema a dizer-me que chegou a minha vez)
... posso sugerir que comprem um livro que desejo muito ler e que a biblioteca não possui.
Claro que, nas sugestões, eu coloco sempre umas notas sobre a importância da aquisição - por exemplo, que venceu o mais importante prémio literário de ficção científica. ;)
No decurso da discussão sobre a quantidade, surgiu um tópico que me fez pensar - pausa entre livros. Na verdade, estou a tentar lembrar-me se houve algum livro, em que tivesse sentido a necessidade de fazer uma pausa, para reflectir ou descansar a mente. Não me recordo.
Quando mais leio, mais quero ler. Na verdade, quando termino um livro, geralmente tenho logo outro em mente ou a excitação infantil do e o que vou ler agora?
Quando o livro é muito denso ou emocionalmente carregado, é mais frequente fazer a pausa entre páginas que entre livros.
Porém, é-me muito difícil resistir ao chamamento do novo livro.
"... a sua constante sabotagem de si próprio, pois é uma característica comum dos alcoólicos fazerem planos e promessas a si mesmos, aos outros, fervorosamente, sinceramente, e na esperança de se redimirem. Promessas que são quebradas vezes sem conta pelo medo, pela falta de coragem, por inúmeras coisas que ocultam esse desejo profundo, arraigado, de eliminar um EU destroçado."
Esta não é uma citação de Paula Hawkinks, mas de Helen Macdonald, no seu A de Açor que terminei ainda há pouco.
Mas é a frase que me vinha constantemente à mente, durante a leitura de A rapariga no comboio, porque foi a minha parte preferida do livro, a descrição do alcoolismo de Rachel, a personagem principal deste livro. É uma das consequências de quem lê de enfiada os livros... este encadeamento, esta ligação entre todos que é, na realidade a nossa humanidade.
A rapariga no comboio é a primeira obra de Paula Hawkinks e há dois anos que vende milhões e milhões de cópias. É vendido como o livro a ser para quem gostou de "Gone Girl", um thiller vertiginoso, que vai deixar os seus leitores arrepiados.
Querido Diário de Leituras,
cheguei a casa pelas 18h00, tomei um banho, fiz um chá, tomei um comprimido e meti-me na cama.
Como a mente não abrandava, peguei no livro - A rapariga no comboio - empréstimo da biblioteca, depois de aguardar a minha vez no sistema de reservas. Pousei-o pelas 19h30 para fazer o jantar. Jantei na cama com um tabuleiro: garfo numa mão e livro na outra. Às 23h00 o livro estava terminado.
Depois da ficção terminar, a realidade bateu-me à porta e só iria dormir às 5h.
"Perdi o controlo sobre tudo, até sobre os lugares dentro da minha cabeça" - esta é uma citação do livro em causa.
Rachel é uma alcoólica que vive nos subúrbios de Londres e no percurso de comboio, entre a casa onde vive e a cidade, acompanha o dia-a-dia dos habitantes das casas, que vai vendo na sua viagem. Tem uma casa preferida, com um casal a quem atribui nomes e vidas imaginárias.
Mas a vida tem sempre uma forma de nos estragar a imaginação e ela vê algo que acaba com o casamento aparentemente idílico. E quando o elemento feminino do casal desaparece, ela percebe que foi testemunha de algo fundamental.
Porém, uma alcoólica não é uma testemunha fiável, nem mesmo da sua própria vida.
O livro está a ser vendido com um thiller policial - rapariga desaparece, alguém investiga, percorremos as páginas até o clímax: saber o quem/como/porquê. Como policial, confesso que prefiro Agatha Christie. Paula Hawkinks dá tantas voltas ao texto que começa a tornar-se tão previsível quando inverosímil.
Porém, como romance com um excelente e coerente desenvolvimento de personagem, é muito bom. Adorei o que Paula Hawkinks faz com Rachel, ao longo da obra, preto no branco e com todos os tons de cinza que queiram imaginar.
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